sexta-feira, 16 de abril de 2010

Outra visão sobre Ahmadinejad

Carlos Robson

O professor Peter Demant, holandês, doutor em seu país sobre a colonização israelense, morou e pesquisou em Jerusalém, chegando ao Brasil em 1999, e desde então, leciona Relações Internacionais e História da Ásia na USP. Ele defende que o mundo muçulmano historicamente apresentou um comportamento muito mais tolerante para com suas minorias do que o mundo cristão com as minorias na cristandade.
Podemos lembrar que ambas as religiões são monopolistas da verdade, expansionistas que, em princípio, querem converter todo o resto do mundo. Contudo, o Islã aceita o Judaísmo e o Cristianismo como antecedentes legítimos de sua própria religião, como formas um tanto modificadas da mesma mensagem de Deus. Assim, essas religiões têm um papel reconhecido e protegido dentro de uma sociedade religiosa, resultando em uma tolerância – mediante certas desqualificações sociais, econômicas e outras.
É claro que sempre temos a tendência de desqualificar a política, a cultura e a religião alheias e esquecemos que a verdadeira democracia, baseada na res publica (coisa pública), com certeza é o sistema político mais seguro contra ditadores e injustiças sociais. Pelo menos, era assim que deveria ser.
Porém, na nossa atual política ainda é muito comum o abuso do poder econômico para comprar cargos públicos e é praxe nas campanhas se falar em quanto custa se eleger para um determinado cargo político. Digo isso para que possamos aperfeiçoar nosso sistema antes de criticar o sistema dos outros.
Mas, voltando a Ahmadinejad, aposto que se fosse o Rei Abdullah bin Abdelaziz, da Arábia Saudita, a vir aqui, ninguém faria esse absurdo que alguns fizeram com o iraniano. E Abdullah sim é um ditador monárquico (mas como ele é aliado dos EUA não passa nada).
Será que ninguém nesse mundo vê as injustiças que acontecem com o povo árabe? Os EUA invadem os países deles, saqueiam e querem controlar a política e, daí, quando algum país sai de seu controle, eles usam toda a mídia mundial para encapetar uma nação (por que essa é a realidade – criaram uma imagem super negativa dos árabes).
Houve maior terrorista no mundo do que George Bush filho? Eu não duvido nada que ele possa ter manipulado facções extremistas e fomentado aquele ataque de 11 de setembro para se reeleger e, depois, de quebra, ter apoio do povo americano para sua guerra pessoal e corporativa, já que as empresas de sua família são concorrentes dos xeques do petróleo.
Depois disso, fica a maioria dos ocidentais de cultura de “robôs papagaios” só repetindo o que a mídia norte-americana diz.
Daí, no subconsciente das nações ocidentais fica o arquétipo de Rambo, ou de Schwarzenegger e de outros patetas fuzilando os demônios árabes, enquanto o mundo ocidental, embriagado pela fascinação cinematográfica norte-americana, aplaude e aplaude, até hoje, embevecido.
Os retratam como a polícia do mundo, mas, na verdade, os EUA não são a polícia do mundo, senão os sabotadores. A Africa está lascada muito por culpa do governo americano que apoiou ditadores nesses países (tal como fez na America Latina no passado).
Duvidas? Assista ao controvertido e premiado documentário, ao estilo de Michael Moore, que fala sobre a influência americana na Líbia e resto da Africa. Verás de maneira clara quem são os “policiais do mundo”…
Não morra sem ver isto!
http://perspectivapolitica.com.br/2009/12/02/artigo-do-leitor-outra-visao-sobre-ahmadinejad/

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Os pecados do Haiti

por Eduardo Galeano
A democracia haitiana nasceu há um instante. No seu breve tempo de vida, esta criatura faminta e doentia não recebeu senão bofetadas. Era uma recém-nascida, nos dias de festa de 1991, quando foi assassinada pela quartelada do general Raoul Cedras. Três anos mais tarde, ressuscitou. Depois de haver posto e retirado tantos ditadores militares, os Estados Unidos retiraram e puseram o presidente Jean-Bertrand Aristide, que havia sido o primeiro governante eleito por voto popular em toda a história do Haiti e que tivera a louca ideia de querer um país menos injusto.

O voto e o veto

Para apagar as pegadas da participação estado-unidense na ditadura sangrenta do general Cedras, os fuzileiros navais levaram 160 mil páginas dos arquivos secretos. Aristide regressou acorrentado. Deram-lhe permissão para recuperar o governo, mas proibiram-lhe o poder. O seu sucessor, René Préval, obteve quase 90 por cento dos votos, mas mais poder do que Préval tem qualquer chefete de quarta categoria do Fundo Monetário ou do Banco Mundial, ainda que o povo haitiano não o tenha eleito nem sequer com um voto.

Mais do que o voto, pode o veto. Veto às reformas: cada vez que Préval, ou algum dos seus ministros, pede créditos internacionais para dar pão aos famintos, letras aos analfabetos ou terra aos camponeses, não recebe resposta, ou respondem ordenando-lhe:
– Recite a lição. E como o governo haitiano não acaba de aprender que é preciso desmantelar os poucos serviços públicos que restam, últimos pobres amparos para um dos povos mais desamparados do mundo, os professores dão o exame por perdido.

O álibi demográfico

Em fins do ano passado, quatro deputados alemães visitaram o Haiti. Mal chegaram, a miséria do povo feriu-lhes os olhos. Então o embaixador da Alemanha explicou-lhe, em Port-au-Prince, qual é o problema:
– Este é um país superpovoado, disse ele. A mulher haitiana sempre quer e o homem haitiano sempre pode.

E riu. Os deputados calaram-se. Nessa noite, um deles, Winfried Wolf, consultou os números. E comprovou que o Haiti é, com El Salvador, o país mais superpovoado das Américas, mas está tão superpovoado quanto a Alemanha: tem quase a mesma quantidade de habitantes por quilómetro quadrado.

Durante os seus dias no Haiti, o deputado Wolf não só foi golpeado pela miséria como também foi deslumbrado pela capacidade de beleza dos pintores populares. E chegou à conclusão de que o Haiti está superpovoado... de artistas.

Na realidade, o álibi demográfico é mais ou menos recente. Até há alguns anos, as potências ocidentais falavam mais claro.

A tradição racista

Os Estados Unidos invadiram o Haiti em 1915 e governaram o país até 1934. Retiraram-se quando conseguiram os seus dois objectivos: cobrar as dívidas do City Bank e abolir o artigo constitucional que proibia vender plantações aos estrangeiros. Então Robert Lansing, secretário de Estado, justificou a longa e feroz ocupação militar explicando que a raça negra é incapaz de governar-se a si própria, que tem "uma tendência inerente à vida selvagem e uma incapacidade física de civilização". Um dos responsáveis da invasão, William Philips, havia incubado tempos antes a ideia sagaz: "Este é um povo inferior, incapaz de conservar a civilização que haviam deixado os franceses".

O Haiti fora a pérola da coroa, a colónia mais rica da França: uma grande plantação de açúcar, com mão-de-obra escrava. No Espírito das leis, Montesquieu havia explicado sem papas na língua: "O açúcar seria demasiado caro se os escravos não trabalhassem na sua produção. Os referidos escravos são negros desde os pés até à cabeça e têm o nariz tão achatado que é quase impossível deles ter pena. Torna-se impensável que Deus, que é um ser muito sábio, tenha posto uma alma, e sobretudo uma alma boa, num corpo inteiramente negro".

Em contrapartida, Deus havia posto um açoite na mão do capataz. Os escravos não se distinguiam pela sua vontade de trabalhar. Os negros eram escravos por natureza e vagos também por natureza, e a natureza, cúmplice da ordem social, era obra de Deus: o escravo devia servir o amo e o amo devia castigar o escravo, que não mostrava o menor entusiasmo na hora de cumprir com o desígnio divino. Karl von Linneo, contemporâneo de Montesquieu, havia retratado o negro com precisão científica: "Vagabundo, preguiçoso, negligente, indolente e de costumes dissolutos". Mais generosamente, outro contemporâneo, David Hume, havia comprovado que o negro "pode desenvolver certas habilidades humanas, tal como o papagaio que fala algumas palavras".

A humilhação imperdoável

Em 1803 os negros do Haiti deram uma tremenda sova nas tropas de Napoleão Bonaparte e a Europa jamais perdoou esta humilhação infligida à raça branca. O Haiti foi o primeiro país livre das Américas. Os Estados Unidos haviam conquistado antes a sua independência, mas tinha meio milhão de escravos a trabalhar nas plantações de algodão e de tabaco. Jefferson, que era dono de escravos, dizia que todos os homens são iguais, mas também dizia que os negros foram, são e serão inferiores.

A bandeira dos homens livres levantou-se sobre as ruínas. A terra haitiana fora devastada pela monocultura do açúcar e arrasada pelas calamidades da guerra contra a França, e um terço da população havia caído no combate. Então começou o bloqueio. A nação recém nascida foi condenada à solidão. Ninguém lhe comprava, ninguém lhe vendia, ninguém a reconhecia.

O delito da dignidade

Nem sequer Simón Bolíver, que tão valente soube ser, teve a coragem de firmar o reconhecimento diplomático do país negro. Bolívar havia podido reiniciar a sua luta pela independência americana, quando a Espanha já o havia derrotado, graças ao apoio do Haiti. O governo haitiano havia-lhe entregue sete nave e muitas armas e soldados, com a única condição de que Bolívar libertasse os escravos, uma ideia que não havia ocorrido ao Libertador. Bolívar cumpriu com este compromisso, mas depois da sua vitória, quando já governava a Grande Colômbia, deu as costas ao país que o havia salvo. E quando convocou as nações americanas à reunião do Panamá, não convidou o Haiti mas convidou a Inglaterra.

Os Estados Unidos reconheceram o Haiti apenas sessenta anos depois do fim da guerra de independência, enquanto Etienne Serres, um génio francês da anatomia, descobria em Paris que os negros são primitivos porque têm pouca distância entre o umbigo e o pénis. Por essa altura, o Haiti já estava em mãos de ditaduras militares carniceiras, que destinavam os famélicos recursos do país ao pagamento da dívida francesa. A Europa havia imposto ao Haiti a obrigação de pagar à França uma indemnização gigantesca, a modo de perdã por haver cometido o delito da dignidade.

A história do assédio contra o Haiti, que nos nossos dias tem dimensões de tragédia, é também uma história do racismo na civilização ocidental.

18/Janeiro/2010
O original encontra-se em www.resumenlatinoamericano.org , Nº 2146

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

domingo, 20 de setembro de 2009

Mulá Omar diz que tropas no Afeganistão serão derrotadas


O Mulá Mohammad Omar, líder do talibã afegão, divulgou uma nota neste sábado na qual afirma que as tropas ocidentais no Afeganistão serão derrotadas em breve, e que seus líderes deveriam aprender com as lições da história. O mulá Omar tachou de "esforços demagógicos" as tentativas dos líderes estrangeiros de "justificar uma ilegal e longa guerra imposta".

Semanas antes do oitavo aniversário da invasão liderada pelos Estados Unidos que derrubou o regime talibã, o Mulá Omar afirma que o Afeganistão será a sepultura das tropas "coloniais".

O comunicado publicado no site da insurgência, ele destaca que os soldados estrangeiros estão sofrendo com "enormes baixas e moral em queda".
http://www.blogger.com/img/blank.gif
"Quanto mais o inimigo recorre ao aumento de suas forças, mais se aproximarão de uma derrota inequívoca no Afeganistão", diz a nota.

O Mulá Omar é um dos fundadores do talibã. Acredita-se que esteja atualmente no Paquistão.

Em sua mensagem, o líder fundamentalista afirma ainda que, ao manter suas tropas no Afeganistão, os países da coalizão "apenas prolongarão a atual crise, sem jamais resolvê-la".

"Os invasores deveriam estudar a história do Afeganistão desde a época da agressão de Alexandre (...) até o dia de hoje, e deveriam tirar uma lissão disto", declara.

http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_secao=9&id_noticia=115958

sábado, 12 de setembro de 2009

Sempre os estadunidenses...

Já se passaram 18 anos após a queda da ditadura do sanguinário presidente Mohammed Stad Baré, mas a Somália não conseguiu até hoje ter um governo estável e forte. Mergulhada no lodaçal da guerra civil, constitui uma dos mais fracassados Estados do mundo.

Calcula-se que 1 milhão de somalis foram mortos, enquanto outros tantos fugiram do país para salvarem suas vidas. O movimento guerrilheiro Al Sabaab ("juventude" em árabe), constituiu o braço armado da parcela de separatistas da União dos Tribunais Islâmicos (ICU) que, em 2006, controlava a maior parte do território norte e central da Somália.

Quando os EUA, com sua famigerada política externa, encorajaram a vizinha Etiópia a invadir a Somália e combater a União dos Tribunais Islâmicos, a guerrilha da Al Sabaab começou a se enfraquecer, mas sobreviveu e, depois da retirada da Etiópia do território da Somália, o poder militar da Al Sabaab cresceu e hoje controla a maior parte do território somali e vários bairros e subúrbios da capital Mogadíscio.

EUA não esquecem Mogadíscio

Idálio Soares

Africa News Agency/Sucursal da África Oriental.

A identificação de todos aqueles que foram recrutados e treinados pela Al Qaeda e, posteriormente, retornaram ao Ocidente é extremamente difícil. Um dos poucos identificados e presos na Austrália, Shanei Edou Haveis, de 27 anos, pai de quatro filhos, foi um imigrante somali que procurou vida melhor para si e sua família na Austrália.

Para seus amigos e vizinhos, ele era um "australiano" comum que havia se adaptado, perfeitamente, ao ocidental "way of life". Porém, há cerca de 18 meses, mudou de costumes e passou a visitar, frequentemente, a mesquita de Melbourne, deixou crescer a barba e passou a usar o característico traje islâmico.

Em seguida, voltou aos seus hábitos anteriores, raspou a barba, adotou o traje ocidental e começou a frequentar os bares e cafés de Melbourne. Para as autoridades, tudo isso foi para despistá-las, pois ele havia sido recrutado pela Al Sabaab.

Retirada humilhante

Hoje, o enfrentamento da ameaça não é uma tarefa fácil para os países ocidentais e, particularmente, para os EUA. Uma invasão militar norte-americana na Somália seria um fiasco, uma catástrofe.

Nos EUA ainda se lembram da batalha de Mogadíscio, em 1993, quando os EUA, em seu esforço para prenderem um somali, "senhor da guerra", 18 soldados norte-americanos foram mortos e cerca de 80 ficaram feridos em um tiroteio que durou 18 horas e terminou com a retirada humilhante das forças dos EUA.

A fim de evitarem fiasco semelhante, os EUA e os demais governos ocidentais têm depositado suas esperanças sobre o governo de transição do país, o qual, contudo, mostra que não está disposto de enfrentar a Al Sabaab, que está disseminando, incessantemente, seus objetivos e seu controle na Somália.

O movimento não dissimula que o próximo alvo de seus guerrilheiros serão os países ocidentais e, especificamente, os EUA e a Grã-Bretanha.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Sobre as Guerras

Entre 1495 e 1975, as Grandes Potências estiveram em guerra durante 75% do tempo, começando uma nova guerra a cada sete ou oito anos. As guerras foram a principal atividade dos estados nacionais europeus, durante seus cinco séculos de existência, e agora de novo, o século XXI já começou sob o signo das armas. Neste contexto, soa absolutamente cômica e desnecessária a justificativa de que as novas bases militares dos EUA, na Colômbia, tem a ver com o combate ao narcotráfico e a guerrilha local. O artigo é de José Luís Fiori.

Entre 1495 e 1975, as Grandes Potências estiveram em guerra durante 75% do tempo, começando uma nova guerra a cada sete ou oito anos. Mesmo nos anos mais pacíficos deste período, entre 1816 e 1913, estas potências fizeram cerca de 100 guerras coloniais. E ao contrário das expectativas, a cada novo século, as guerras foram mais intensas e violentas do que no século anterior (J. Levy, “War in the modern Great Power System”, Ky Lexington, 1983). Por isso, se poder dizer que as guerras foram a principal atividade dos estados nacionais europeus, durante seus cinco séculos de existência, e agora de novo, o século XXI já começou sob o signo das armas. Mas apesar disto, segue sendo um tabu falar e analisar objetivamente o papel das guerras na formação, na evolução e no futuro do sistema inter-estatal capitalista, que foi “inventado” pelos europeus, nos séculos XVI e XVII, e só se transformou num fenômeno universal, no século XX. Talvez, porque seja muito doloroso aceitar que as guerras não são um fenômeno excepcional, nem decorrem de uma “necessidade econômica”. Ou porque seja muito difícil de entender que elas seguirão existindo, mesmo que não ocorram enfrentamentos atômicos entre as Grandes Potências, porque elas não precisam ser travadas para cumprir seu “papel” dentro do sistema inter-estatal. Basta que sejam planejadas de forma complementar e competitiva.

A primeira vista, tudo isto parece meio absurdo e paradoxal. Mas tudo fica mais claro quando se olha para o começo desta história, e se entende que o sistema mundial em que vivemos, foi uma conquista progressiva dos primeiros estados nacionais europeus. E desde os seus primeiros passos, este sistema nunca mais deixou de se expandir, “liderado” pelo crescimento competitivo e imperial de suas Grandes Potências, que lutam permanentemente para manter ou avançar sua posição relativa dentro do sistema. Por isto, tem razão o cientista político norte-americano, John Mearsheimer, quando diz que “as Grandes Potências têm um comportamento agressivo não porque elas queiram, mas porque elas têm que buscar acumular mais poder se quiserem maximizar suas probabilidades de sobrevivência, porque o sistema internacional cria incentivos poderosos para que os estados estejam sempre procurando oportunidades de ganhar mais poder às custas dos seus rivais...”. (Mearsheimer, “The tragedy of the great powers”, 2001: 21).

Neste processo competitivo, a guerra, ou a ameaça da guerra, foi o principal instrumento estratégico utilizado pelos estados nacionais, para acumular poder e definir a hierarquia mundial. E as potências vencedoras - que se transformaram em “líderes” do sistema - foram as que conseguiram conquistar e manter o controle monopólico das “tecnologias sensíveis”, de uso militar. Por sua vez, esta competição pela ponta tecnológica, e pelo controle monopólico dos demais recursos bélicos, deu origem à uma dinâmica automática e progressiva, de preparação contínua para as guerras. Numa disputa que aponta todo o tempo, na direção de um império único e universal. Mas, paradoxalmente, este império não poderá ser alcançado sem que o sistema mundial perca sua capacidade conjunta de seguir se expandindo. Por que? Porque a vitória e a constituição de um império mundial seria sempre a vitória de um estado nacional específico. Daquele estado que fosse capaz de impor sua vontade e monopolizar o poder, até o limite do desaparecimento dos seus competidores. Se isto acontecesse, entretanto, acabaria a competição entre os estados, e neste caso, os estados não teriam como seguir aumentando o seu próprio poder.

Ou seja, neste sistema inter-estatal inventado pelos europeus, a existência de adversários é indispensável para que haja expansão e acumulação de poder, e a preparação contínua para a guerra é o fator que ordena o próprio sistema. Assim mesmo, como a “potência líder” também precisa seguir acumulando poder, para manter sua posição relativa, ela mesma acaba atropelando as instituições e os acordos internacionais que ajudou a criar num momento anterior. Ela é quem tem maior poder relativo dentro do sistema, e por isto, ela é que acaba sendo, quase sempre, a grande desestabilizadora de qualquer ordem internacional estabelecida.

Agora bem, a preparação para a guerra, e as próprias guerras, nunca impediram a complementaridade econômica e a integração comercial e financeira, entre todos os estados envolvidos nos conflitos. Pelo contrário, a mútua dependência econômica sempre foi uma peça essencial da própria competição. Às vezes, predominou o conflito, às vezes a complementaridade, mas foi esta “dialética” que se transformou no verdadeiro motor político-econômico do sistema inter-estatal capitalista, e no grande segredo da vitória européia, sobre o resto do mundo, a partir do século XVII.

Entre 1650 e 1950, a Inglaterra participou de 110 guerras aproximadamente, dentro e fora da Europa, ou seja, em média, uma à cada três anos E entre 1783 e 1991, os Estados Unidos participaram de cerca de 80 guerras, dentro e fora da América, ou seja, em média, também, uma a cada três anos. (M. Coldfelter, “Warfare and armed conflicts”, MacFarland, Londres, 2002). Como resultado, neste início do século XXI, os Estados Unidos tem acordos militares com cerca de 130 países, ao redor do mundo, e mantém mais de 700 bases militares, fora do seu território. E assim mesmo, devem seguir se expandindo - independente de qual seja o seu governo - sem precisar ferir necessariamente o Direito Internacional, e sem precisar dar explicações a ninguém. Por isto, soa absolutamente cômica e desnecessária a justificativa de que as novas bases militares dos EUA, na Colômbia, tem a ver com o combate ao narcotráfico e a guerrilha local, assim como os argumentos que associam a instalação do escudo anti-mísseis dos EUA, na fronteira com a Rússia, com o controle e bloqueio de foguetes iranianos. Como soa ridícula, neste contexto, a evocação do “princípio básico da não ingerência”, na defesa das decisões colombianas, polacas ou checas. Neste “jogo” não há limites e por mais lamentável que seja, os “neutros” são irrelevantes ou sucumbem, e só lhes restam duas alternativas, para os que não aceitam aliar-se ou submeter-se à potencia expansiva: no caso dos mais fracos, protestar; e no caso dos demais, defender-se.

José Luís Fiori, cientista político, é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Darfur: alto funcionário destaca papel da Líbia em conflito sudanês


Gration exaltou os esforços de Tripoli para que os movimentos rebeldes de Darfur se unam para negociar a paz e tranquilizar as tensões no país.
Cairo - O emissário americano para o Sudão Scott Gration ressaltou o papel "muito positivo" da Líbia na resolução do conflito de Darfur e em suas repercussões no Chade, durante uma reunião com autoridades egípcias, líbias e sudanesas no Cairo.
"Estou muito impressionado com o papel assumido pelos líbios", declarou ontem (23) Gration à imprensa, referindo-se aos esforços de Tripoli para que os movimentos rebeldes de Darfur se unam para negociar a paz e tranquilizar as tensões no país.
"Os líbios têm um papel muito positivo e estamos muito orgulhosos de nossa parceria com eles" nesta questão, acrescentou.
Segundo Gration, os "encontros quadripartitos" com autoridades sudanesas, líbias e egípcias serviram para tratar temas além do conflito de Darfur, evocando as relações entre o poder de Khartoum e as províncias do sul sudanês, assim como outros "problemas regionais"
http://www.africa21digital.com/noticia.kmf?cod=8815036&indice=0&canal=401

domingo, 30 de agosto de 2009

De novo, os piratas...


A crise generalizada que vive a Somália foi apontada pela organização internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) como “uma das dez piores calamidades humanitárias negligenciadas pelo mundo”. A instituição constatou o recrudescimento das condições mínimas de saúde no país a partir de 2006, e desde então dias melhores nunca foram vistos. Forçados a uma impotência econômica em função do desvio de ajuda humanitária orquestrada pelos Estados Unidos e ONGs estadunidenses e européias e atos de ganância, a pirataria é pecado de último recurso.

A intervenção estadunidense na Somália começou na década de 1960, assim que o país se tornou independente, sob o governo de Mohamed Siad Barre. Na época, com o mundo dividido entre Estados Unidos e União Soviética, Barre procurou ajuda dos soviéticos.

Na década de 1970, porém, os soviéticos abandonaram a Somália e decidiram se aliar à Etiópia em uma disputa por Ogaden, uma parte da região somali da Etiópia. Em pouco tempo, a Etiópia, aliada da União Soviética e de Cuba, atacou as forças de Barre e expulsou os somalis de Ogaden. Anos depois, com as tensões da Guerra Fria, os Estados Unidos decidiram procurar Barre para combater a influência soviética na África. Em 1981, os EUA passaram a enviar 100 milhões de dólares anuais em armas para Barre, mas nenhum centavo em ajuda humanitária ou desenvolvimento civil. Em um país sem medicamentos, alimentos ou infraestrutura, mas com armas de todos os tipos fornecidas por Washington, era evidente que o desenrolar dessa história seria sangrento ao levar o país a uma guerra civil. Com o fim da Guerra Fria, os Estados Unidos abandonaram a Somália novamente. Graças às armas estadunidenses, Barre sobreviveu – mas não a nação somali

A Somália entrou na década de 1990 com uma economia tão inexistente quanto o sistema político do país. Em 12 de julho de 1993, as 15 facções somalis então existentes no período da guerra haviam chegado a um acordo de estabelecer um governo de união nacional. Apesar disso, um dos partidos envolvidos, de Mohammed Farrah Aidid, havia demonstrado incerteza sobre abandonar as armas. Sendo assim, os Estados Unidos orquestraram uma operação militar em Mogadíscio, a capital somali, a fim de assassiná-lo. A casa onde estava foi invadida e após 17 minutos de bombardeios todos os 73 homens que lá estavam foram mortos. Acontece que, dentro da casa, estavam assessores de Aidid que haviam concordado naquela mesma manhã em abandonar as armas. Entre os mortos, 4 eram jornalistas estrangeiros que estavam cobrindo a decisão que poderia ter dado fim à guerra. Graças ao ataque estadunidense, a guerra continuou, quando o governo das Cortes Islâmicas, apoiado pelo povo somali e responsável pelo fim da guerra, foi rotulado pela administração Bush como uma “organização terrorista aliada à Al-Qaida”.

Os interesses estadunidenses na região estão na origem do conflito que sangra o país africano. Entre eles, a localização geográfica estratégica do país, rota mundial do petróleo, e o controle do próprio combustível. “O Conselho Supremo das Cortes Islâmicas é apenas um pretexto”, afirma Jama Mohamed, da Organização Somaliana para o Desenvolvimento Comunitário. “O principal interessado na crise são os Estados Unidos”, disse ele. Empresas estadunidenses tinham concessão para a exploração do recurso natural no país, mas com as Cortes Islâmicas isso mudou, e empresas chinesas rivais passaram a ameaçar o domínio estadunidense. Com a deflagração do último conflito promovido pelos EUA, estes têm revelado sua constante política que, em última instância, busca fragmentar forças internas para enfraquecer qualquer tipo de reação.
http://www.estadoanarquista.org/blog/?m=20090423

Nesse cenário surgiram os piratas, num país devastado pela guerra, recortado por lideranças ilegítimas e sem a mínima infraestrutura. Formados em sua maioria por pescadores, os piratas somalis organizaram-se antes que os mesmos estrangeiros de antes, somente com novos rostos, chegassem para “reconstruir” o país. Eles representam o povo sofrido desse país que, de mão em mão, foi destruído desde o dia que nasceu

sábado, 1 de agosto de 2009

Meu Deus, o que fizemos?


Quando as chamas começaram a apagar-se cedendo lugar a uma espessa e corrosiva chuva negra, os sobreviventes da cidade além de chorar os seus cerca de oitenta mil mortos, verificaram, cheios de espanto e terror, que Hiroxima havia simplesmente desaparecido.
A bordo do Enola Gay, ao olhar o aterrorizante cogumelo de fogo e cinza que se erguia a centenas de metros, o Capitão Robert Lewis, co-piloto do Coronel Tibbets murmurou:
“Meu Deus, que fizemos”.
Cerca de 92% dos edifícios e casas foram destruídas num raio de 4 kms. Criou uma luminosidade que cega e em queda uma bola de fogo com uma temperatura no núcleo de cerca de um milhão de graus. A bola de fogo expandiu-se de 25,6 metros para 256 de diâmetro num segundo, criando uma enorme onda de explosivos e em seguidas ondas de abalos. Ventos de 1600 quilómetros/hora e poeira são sugados para cima e criam nuvens em forma de cogumelo, que espalha detritos radioactivos. Entre 70 mil e 80 mil pessoas terão morrido instantaneamente. Milhares de vítimas que estavam queimadas, mutiladas, cegas pelo clarão da explosão, vagavam entre os cadáveres calcinados e uma quantidade incalculável de escombros, procurando desesperadamente socorro.
No dia 9 de Agosto seria lançada nova bomba atómica, alcunhada de Fat Man, desta feita em Nagasaqui.